Trasncrevemos artigo de José Ferreira de Melo Neto - diretor superintendente do Sebrae/RN, publicado no Tribuna do Norte
"O saudoso Professor Cortez Pereira, governador no período de 1971 a 1975, dizia, em sua brilhante oratória, que o Rio Grande do Norte não tinha um clima adverso. Nós, potiguares, é que teimávamos em desenvolver atividades adversárias do nosso clima. Ele tinha plena razão. Idealista, pensou grande e inovou em várias atividades. O Projeto Camarão foi pioneiro, no Brasil, na criação em cativeiro. As vilas rurais, baseadas no cultivo do cajueiro, floresceram em Serra do Mel, município que ainda hoje é o maior produtor potiguar e tem a mais extensa área implantada com essa cultura, superior a 31 mil hectares.
Em 2010 a castanha de caju foi o principal produto de exportação do Rio Grande do Norte, gerando quase US$ 46 milhões, a mais alta quantia obtida em cinco anos, impulsionada pelo aumento do preço no mercado internacional. Ainda em relação ao valor da produção exportada, o nosso Estado ocupou a segunda melhor posição, em todo o Brasil, abaixo apenas do Ceará.
Isso não significa que todos os problemas foram superados. Ainda temos muitos desafios a vencer, sendo o mais importante, talvez, o do aumento da produção e da produtividade. As 8,4 mil toneladas de castanha que exportamos é um volume menor em 19,3% daquele registrado em 2006. Embora os baixos índices pluviométricos em 2009 tenham tido impacto negativo na produção da castanha de caju, em 2010, se a boa fase internacional de preços tivesse ocorrido em conjunto com uma maior produtividade, poderíamos ter tido uma posição mais vantajosa em nossa balança comercial.
Sendo uma planta nativa, o cajueiro prospera em todo o território potiguar. Entretanto, pelo natural processo de evolução para sobreviver e se adaptar às severas condições do semiárido, a planta nativa tem baixa produtividade. A solução foi a substituição de copa através da enxertia. Permanecem as fortes raízes sertanejas para nutrir um tronco ao qual foi acoplado material genético de um cajueiro anão precoce, desenvolvido especialmente pela Embrapa. O resultado é espetacular.
O agronegócio do caju tem uma extensa cadeia produtiva, que se inicia na plantação, passa pelo processamento do pedúnculo e da castanha, pelos segmentos de embalagens, transporte e armazenamento, até chegar ao consumidor final. Sendo a mais importante atividade agrícola de sequeiro do Estado, o SEBRAE voltou sua atenção para a cajucultura, em parceria com outras instituições. Com a Fundação Banco do Brasil o objetivo foi a implantação de minifábricas de castanha de caju.
Cada unidade tem capacidade para beneficiar quatro toneladas/mês de amêndoas de castanha de caju, o que significa o processamento de vinte toneladas/mês de castanha de caju in natura, com geração de 25 empregos diretos. Neste Estado oito minifábricas estão em pleno funcionamento nos municípios de Apodi, Assu, Severiano Melo, Portalegre, Caraúbas, Touros, Macaíba e Pureza e em processo de instalação encontram-se a de Vera Cruz e a da progressista cidade de Campo Grande.
No segundo semestre de 2011 uma central de comercialização será inaugurada em Apodí, com filial em Macaíba. Também nesse município uma central virtual de comercialização vende produtos sob uma marca única, “Terra Firme’’, distribuindo-os para quatro lojas do Walmart (RN e PE) e Uvifrios (RN), além de atingir Estados do Sul através de atacadistas.
Tudo isso facilita a entrada do produto no mercado, inclusive internacional. A saborosa e nutritiva castanha de caju ganha ares sofisticados quando seu processamento tem em vista mercados exigentes, que aceitam pagar mais por determinadas especificações. É o caso da certificação em Fair Trade/Comércio Justo obtida por produtores de castanha da Comunidade Novo Pingos, em Assu. Pois é, não é só o polêmico Cajueiro de Pirangi que faz sucesso..."
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