A produção de castanha de caju poderá encolher mais de 40% na safra 2010/2011, no Rio Grande do Norte, pressionada por um tripé que inclui envelhecimento dos pomares, ventos fortes e escassez de chuvas no período de floração. O cenário de adversidades é apontado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e traz consequências práticas a pequenos produtores e a grandes indústrias que beneficiam e exportam o produto, mas não se limita ao RN. “Houve uma quebra nacional em torno de 51% em relação à safra 2009/2010”, diz o chefe geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Vitor Hugo de Oliveira. Um levantamento divulgado por ele, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, indica que estados como Piauí e Ceará amargaram prejuízos maiores que o do RN.
O Rio Grande do Norte, o Ceará e o Piauí concentram em torno de 90% da produção de castanha do Brasil e as perdas sofridas por eles deverão significar para o país uma das maiores quebras de safra dos últimos 20 anos. Um dos fatores preponderantes para isso foi a irregularidade das chuvas ao longo de 2010. Outro estímulo à queda da produção tem sido a idade avançada dos pomares.
A Embrapa estima que, no país, 750 mil hectares plantados com o fruto sejam colhidos anualmente. “O que acontece é que os pomares são constituídos por plantas com idade entre 35 e 40 anos. São plantas com idade avançada e isso aliado a um manejo inadequado [o que inclui adubação, correção do solo, controle de pragas e doenças] tem como resultado a baixa produção”, frisa Oliveira.
Prejuízos
O Rio Grande do Norte detém hoje 120 mil hectares plantados com cajueiros, de acordo com informações do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN (Emater). Em Serra do Mel, município com a maior área plantada – 30 mil hectares – a perda de produção chegou a 70% e significou prejuízos para os pequenos produtores. Para se ter ideia da situação, apenas 90 das 200 unidades familiares de beneficiamento de castanha funcionaram durante a safra, diz o assessor regional de culturas da região de Mossoró, pela Emater, José Roberval de Lima. “A situação foi calamitosa. No município também há duas cooperativas de produtores artesanais e elas estão com dificuldades para cumprir contratos externos porque não têm castanha”, observa ele.
Mas não foram só os pequenos que sofreram. “Chegamos a dar férias coletivas de um mês [em novembro], na unidade de Mossoró, porque faltou castanha para processar”, diz a gerente de exportação da Usibras, a maior exportadora de castanhas do Rio Grande do Norte, Cinthya Lima Assis. A empresa, que detém unidades de beneficiamento de castanha também no Ceará e nos Estados Unidos, abastece as fábricas brasileiras com castanha comprada principalmente no Rio Grande do Norte, no Piauí e no Ceará. Para não parar a produção, uma das saídas foi a formação de estoque suficiente para atender a demanda até o mês de abril.
O caminho da importação, que já havia sido trilhado pela empresa em 2008, quando também foi registrada quebra de safra, só que numa proporção menor a que se tem hoje, também deverá ser seguido. Cinthya explica que, em 2008, houve dificuldades para desembaraçar a mercadoria no país e a carga acabou voltando para o fornecedor. Agora, a Usibras formou um “pool” com outras duas empresas para trazer mais uma vez castanha de fora. O produto deverá ser trazido de Gana, com a chegada da primeira remessa prevista para este mês.
“É um este que estamos fazendo e se vingar vamos começar a exportar quantidades maiores em março. Isso, porque além da quebra da safra, o preço da matéria-prima está super elevado no Brasil. O quilo está custando em média, aproximadamente, R$ 2,10, 2,15. No ano passado, a média era R$ 1, aproximadamente. Mais que duplicou. Comprando lá fora, o preço deverá ser inferior”, diz.
Recuperação não deve ser total em 2011
Se o período de chuvas for regular este ano a expectativa é que o quadro de perdas não se repita na safra 2011/2012. Mesmo que o clima contribua, porém, a não deverá haver uma completa recuperação da produção, por causa do envelhecimento dos pomares. “Essa é uma questão que preocupa”, ressalta Vitor Hugo de Oliveira, da Embrapa. “Entendemos como primordial uma política de renovação dos pomares com destaque nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, que respondem pela maior parte da produção”, diz ele, observando que essa política deveria ser associada a outras ações voltadas para a cajucultura, o que inclui oferta de crédito e de assistências técnica tendo como foco a renovação das plantações.
A introdução de variedades mais produtivas no cultivo é pontada como uma solução para o problema. A Embrapa afirma dispor de mais de 10 varieades, que produzem cinco vezes mais em relação às variedades atualmente cultivadas e que são adequadas às condições da região Nordeste. “Se depender única e exclusivamente de iniciativas individuais dos produtores vai-se levar muitos anos para que os pomares sejam renovados”, observa ainda o chefe geral da Embrapa Agroindústria Tropical.O período de safra do caju varia de acordo com o estado, mas normalmente se concentra no segundo semestre do ano, podendo se estende, dependendo do período chuvoso, até o mês de janeiro, segundo a Embrapa. (Renata Moura - repórter - Tribuna do Norte)
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